Total de visualizações de página

sábado, 24 de setembro de 2011

Porque Escrevo?


Vergílio Ferreira
Escrever. Porque escrevo? Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu. Escrevo porque o erro, a degradação e a injustiça não devem ter razão. Escrevo para tornar possível a realidade, os lugares, tempos que esperam que a minha escrita os desperte do seu modo confuso de serem. E para evocar e fixar o percurso que realizei as terras, gentes e tudo o que vivi e que só na escrita eu posso reconhecer, por nela recuperarem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, que é a primeira e a última que nos liga ao mundo. Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão.
Bruno Tolentino
“Digamos que escrevo para tentar separar o mundo-como-tal do mundo-como-ideia. Claro? Bem, talvez tenha outras motivações menos conscientes, mas não tenho melhor justificativa para exercer um ofício tão perigoso… Imaginar-se autor parece-me tamanha petulância que desde que me entendo tento fingir que sirvo para alguma coisa!”
Adélia Prado
“Boa pergunta. É necessário que eu escreva, acho que é uma necessidade divina de mostrar a Sua face, o espírito quer ser adorado, ele quer ser visto. Deus precisa fatalmente de mostrar a Sua face e a arte é uma mediação para a divindade. Então, neste caso, tenho que ser dócil a este desejo divino. Não obedecer a isto é pecar, é um pecado capital, eu não sou dona disto, não posso falar: não vou escrever mais, isto seria o máximo do orgulho, então eu tenho que escrever.”
Millor Fernandes
“Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava
Pergunta feita a todos os escritores, desde o princípio dos tempos, antes mesmo da invenção da escrita: Por que você escreve? E eu respondo.Imitando o dito popular dipsomaníaco: “Bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comia” atribuído a todo mundo porque não é de ninguém (provavelmente foi dito pelo primeiro bêbado), eu esclareço: “Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava”.
Nunca procurei, pleiteei, um emprego na vida. Quando vi me pagavam pelo que eu batia à maquina (é, já havia a máquina datilográfica, sucessora gloriosa da caneta-tinteiro, substituta da caneta, do tinteiro e do mata-borrão!!! Por pouco não peguei a pena de ganso) e muito até. Dava pra pagar a pensão, pelos versinhos gloriosos das GAROTAS do Alceu, quem quiser saber o que é, ou era, isso, que pesquise. Ia escrevendo, e o que saia, vendia. Ás vezes já maluco, psicodélico, contestatório, surrealista. Tudo, naturalmente, sem saber.”
Clarice Lispector
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”“Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”“É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”
Hilda Hilst
“Essa bobagem de sexo na velhice não atinge o poeta. Escrevo justamente para não envelhecer. Posso ter 70 ou 80 anos, vou continuar erótica. A imaginação vai assumindo o controle das lembranças e ninguém segura. Sei respeitar a ausência do amado e ainda assim desejá-lo. ‘Desperdicei meu corpo para aliviar minha alma’, acho que escutei isso num filme.”
José Inácio Vieira de Melo
Escrevo para poder continuar vivo, para preencher o imenso deserto do meu ser com os eus que vou inventando. Escrevo porque sofro de uma praga sagrada: a poesia. Escrevo porque se parar de escrever deixo de existir. Escrevo para matar a besta e decifrar o enigma. Escrevo o meu enigma. Escrevo porque é minha oração e meu paradigma. Escrevo para me proteger dos coices desses cavalos. Escrevo para encontrar a salvação no Vale de Josafá, no Vale do Jequitinhonha, em Jericó ou em Maracás. Escrevo porque escrevo. Escrevo porque tenho fome.