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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Manuel Anastácio, falando Da condição humana

Irresponsabilidade
Tudo apodrece à nossa volta, é verdade.
E todas as promessas se diluem
Na atmosfera, em ondas que se afastam.
Tudo é sonho.
Tudo é mentira.
Tudo decai.
Tudo permanece em semi-vida
E de tudo irradia aniquilação.
As flores murcham no seu prazer e os frutos ficam só pelo rascunho
De um carpelo murcho e atrofiado.
Tudo permanece em silêncio, amarrado a silêncio,
Tudo silenciado, a não ser o gesto.
O teu gesto de ser, de avançar,
De acreditar sem esperar.
Tudo é esperança, tudo é lembrança,
Tudo é passado, destruído, arrasado,
Tudo morre à nossa volta,
Tudo nasce com a certeza de que terá fim.
É por isso que não somos tudo.
Estamos à parte. Tudo à nossa volta morre.
Menos nós. Ainda mais quando antecipadamente
Já morremos.
Porque a nossa decadência é a seiva que perfuma o ar
De um instante que outros sorverão com nostalgia.
Morreremos, também, um dia.
Mas outros por nós viverão
E aspirarão o doce odor da nossa irremediável, irresponsável
Utopia.
É por esse instante, que sendo nosso,
Não viveremos, que prestamos, em silêncio,
O nosso rito, enternecido,
A um Deus de Amor que é um grito.
Há no nosso sonho aflito
O renascer de um Deus para nós desconhecido.
Tudo é sonho.
Tudo é, à partida, perdido.
A não ser que o queiramos agarrar sem o merecer primeiro.
E só o merecemos se o deixarmos por nós esperar.
Tudo morre, tudo é sonho.
Tudo.
Menos nós, que não somos tudo.
Somos a parte de tudo dar.