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terça-feira, 17 de maio de 2011

A CAIXA DE PANDORA E O PONTO DE INTERSEÇÃO - Márcia Gribel

Este texto foi enviado por uma amiga, muito bom por sinal! Caso queiram fazer o mesmo enviem seus texto, posto com prazer, obrigado Márcia pelo ótimo texto, tomara que mais gente contribua, umas das coisas que eu queria era exatamente isso.


Quantas vezes olhamos para o outro por detrás das lentes de nossos óculos e munidos de nossa régua tão somente. E o que conseguimos ver é a imagem do que estas lentes nos permitem e a medida apontada por nossa régua, nada além... O outro aí é aquele como idealizamos, alguém que existe desde o dia em que o conhecemos.
Mas o outro seria só isso? E o que traz consigo ao longo de toda uma vida, seus medos, traumas, dores, pontos de conflito, limites...?
Vida vai, vida vem, aí chega um dia que a Caixa de Pandora de cada um é aberta; muitas vezes descuidadamente. E um acaba tocando na dor, no limite, no trauma, no sagrado do outro.
Nesse momento, estejamos de cada lado for da moeda, parece que nosso instinto animal de sobrevivência, enfim, grita. E o grito ecoa, devasta, destrói. E, por ser irracional, nada ouve, nada vê, nada pondera. É questão de vida ou morte. Como é mais fácil tentarmos destruir quem ousou tocar no sagrado (ou profano), tampamos rapidamente a tal Caixa de Pandora e partimos para cima do outro como bichos furiosos. Não conseguimos verbalizar nossa dor, nosso limite. E tá doendo pra cara...
Ainda que tenhamos falado, não conseguimos atingir o objetivo da comunicação. Porque se o outro não entendeu, a comunicação não funcionou. A não ser que ele tenha um viés cruel, sádico, que o mova voluntariamente em direção ao que nos causa dor. Aí já é outra história... O problema é que sempre pensamos que o outro entende tudo, vê tudo, sente tudo, sob a nossa lente, nossa régua, nossa forma de sentir. Esquecemos de que o outro é, simplesmente, o outro...
A medida, o limite, a dor...é claro que cada qual sabe do seu. Mas, quando amamos, precisamos sim, amorosa e pacientemente, mostrar ao outro o que há em nossa Caixa de Pandora. Mais do que isso: alertá-lo do que possa ocorrer caso a caixa seja aberta inadvertidamente. E, como fazemos com crianças pequenas (e o que somos no aprendizado do amor se não crianças pequenas?), repetir o que pode e o que não pode até a criança compreender. Decorar não adianta...é preciso compreender.
Afinal, amar é crescer. E crescer dói. Amar exige boa vontade, tolerância, paciência, compaixão e um olhar mais amplo para o mundo. Mundo este que não se limita a nós (com nossas dores, traumas, limites etc) Mundo que engloba mais um (com toda a bagagem que traz consigo, de dores, medos, limites, traumas etc) e, além disso, há de se reservar o espaço para os pactos construídos a dois.
Quando o amor é maior, o ponto de conflito se transforma no ponto de interseção. O ponto onde exatamente se dá o encontro. O encontro verdadeiro de duas pessoas dispostas ao aprendizado do amor, o que inclui, muitas vezes, a dor da desconstrução, um novo olhar para a vida.

Márcia Gribel